domingo, 4 de janeiro de 2009

Taxidermia sexual

(Postado originalmente em 26/10/2008)

A mídia é mesmo uma fanfarrona. Dá um banho de intelectualidade em bobagens desmedidas e fomentam uma cultura inútil que presta um senhor desserviço à evolução da humanidade. É o caso do fenômeno da metrossexualidade.
Afinal, que raios é um metrossexual? Uma pessoa com fetiche de transar no metrô? Alguém que faz coisas impensáveis com uma trena?
Nada disso. Trocando em miúdos, o metrossexual é só um tipinho fresco que se destaca por uma série de firulas comportamentais cosmopolitas. Nenhuma delas, diga-se de passagem, relacionadas a sexo. Logo, concluo que se trata um imbecil o indivíduo que criou esta alcunha. E mais fatalmente imbecil ainda a mídia que sustenta a idéia, cristalizando, assim, uma série de valores descartáveis e inconvenientes. Se é para falar de comportamento afeminado na sociedade, então deveria se chamar metrossocial, ginomimético, sei lá, qualquer coisas que não tivesse a conotação sexual no seu conceito, pois, justo, não é o ato sexual que o classifica.
Mas a mídia está lá espreitando. Pois as práticas rotineiras do metrossexual-que-não-faz-sexo só podem estar ligadas à sua vida sexual, deduzem. Logo, a torcida quer ver ele sair do armário. E a sede de sangue cor-de-rosa da sociedade não dá trégua.
Esta perseguição homofóbica ao metrossexual-que-não-faz-sexo é apenas o reflexo de um problema cultural muito mais antigo e arraigado da civilização: a misoginia.
A homofobia, o fantasma do momento, é só uma máscara para esconder o desprezo milenar que a sociedade tem pela figura da mulher. Se não fosse isso, o metrossexual poderia viver sossegado pintando as unhas, depilando a virilha e passando protetor labial para lábios sensíveis. Não importa se ele transa mulher. Ele entrou para o achincalhado time dos gays que mimetizam as condenáveis práticas femininas e coloca em risco o seu status superior como homem.
A homofobia é só a ponta do iceberg. Quase que um mero sintoma do problema real. Do contrário, por que tantas bichas desesperadas lutam diariamente no chat para provar umas às outras que são machos além de qualquer afetação? Sim, chat gay é o maior exercicío de (auto)enganação da história da internet. Só vai ser bom se é para trepar com um legítimo exemplar de macho-alfa.
E mais: a aceitação da homossexualidade, como modelo de comportamento aceitável, só funciona se os viadinhos em questão se comportarem como bons moços com H maiúsculo. Porque os travestis, que exteriorizam o feminino, continuam, via de regra, na marginalidade se prostituindo. E drag queen não conta, porque o contexto é praticamente teatral, fugindo da cerne da questão.O problema definitivamente não é de orientação sexual. Dane-se com quem você dorme, contanto que você represente o papel certo. E isso deveria ser muito bem repensado antes de dar continuidade à discussão da tal diversidade. E vamos deixar o rapaz tirar a cutícula em paz sem carimbar um senhor rótulo idiota de metro-que-o-pariu? A tal da sociedade contemporânea agradece.

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