terça-feira, 24 de maio de 2011

O amor é cego e não lê em braile.

- Querida, tenho uma surpresa ótima para você!
- Hmmmm, adoro surpresas ótimas! O que pode ser melhor do que estes bombons trufados depois de fazer um amor gostoso com você?
- A-di-vi-nha!
- Alguma lingerie erótica?
- Não.
- Aquele par de brincos que eu vi no shopping!
- Hmmm.... Não! Melhor ainda!
- Ai, melhor ainda? Deixa eu ver... Um final de semana em Buenos Aires para dançar tango!
- Muito melhor!
- Gente! Que aflição! Conta logo o que é!
- Como você havia sugerido... Eu me livrei da minha mulher!
- Se livrou da sua mulher? É sério isso? Mesmo?
- Sim! Não é demais?
- Oh, my God! Eu nunca pensei que ela iria concordar com a separação...
- E não iria mesmo. Por isso eu a matei.
- Ma-matou? Querido, como assim? Matou de matar?
- Sim, como você havia sugerido, meu bem!
- M-m-mas, meu amor. Eu sugeri você “se livrar” dela. Não “matá-la”!
- E você acha que eu conseguiria me livrar dela de outra forma?
- Da forma tradicional, ué! Da mesma maneira como acabam todos os casamentos: divórcio!
- Você não sabe o demônio que era aquela mulher. Ela jamais me daria o divórcio sem antes tirar tudo de mim. Então resolvi ser prático. Agora podemos curtir nossa vida como bem entendermos.
- Calma. Muita calma nesta hora. Não é bem assim.
- Como “não é bem assim”? Você não me queria só pra você? Agora tem.
- Isso quando você era um banqueiro renomado. Agora que você é um fugitivo procurado, eu não sei se o que sinto por você é o mesmo...
- Eu não sou um fugitivo procurado. Ninguém está me procurando! Foi o crime perfeito! Ninguém vai me denunciar. Só você está sabendo... Ah, não ser que você... Não... Você não seria capaz... Seria?
- Eu tenho princípios éticos que me obrigam a tomar uma atitude em relação a isso...
- Ah, certo. Agora você é ética. Na hora de roubar o marido das outras, tudo bem, não é?
- Olha, querido. Adultério é uma coisa. Ser cúmplice de assassinato são outros quinhentos euros.
- Eu não estou entendendo. Eu fiz tudo como você pediu. Você não percebe?
- Honey, você concebe que euzinha não pedi para você matar a sua mulher. Você está maluco!!!
- Sim, maluco! Maluco por você! Eu sempre fiz tudo o que você sempre quis, não fiz? Realizei todas as suas fantasias tresloucadas que eu jamais concebia na minha vida de casado! Usei cuequinha fio-dental, gel anestesiante... Até beijo grego eu fiz em você.
- E bem que você gostou.
- Gostei, mas me deu sapinho na boca depois. Explicar aquilo para a falecida foi uma dor de cabeça...
- Ah, agora está me chamando de suja... Olha aqui, fique sabendo que o sujo é você, seu criminoso frio! Coitada da sua esposa, viu? Ela não merecia este destino.
- Eu não entendo! Agora você está do lado dela!
- O que você quer dizer com isso? De que “estou do lado dela”... Vai me colocar numa cova ao lado dela? Você vai me matar também? É isso? Vai me calar na marra? Pois fique sabendo que eu não tenho medo de você!!!
- Deixa de ser boba! Eu não quero matá-la! Eu quero me casar com você!
- Casar comigo?
- Sim, meu amor!
- Mas... e se eu for a sua esposa... Você ainda vai querer realizar minhas fantasias?
- Todas elas!
- Até o beijo grego?
- Sim!
- Com chantilly?
- Com chantilly e tudo mais!
- Ah, meu amor... Eu também queria me casar com você... Mas você estragou tudo! Você sujou suas mãos de sangue...
- Não é pra tanto também né, querida... “Sujou suas mãos de sangue”... Fiz quase nada! Ela já estava pra morrer mesmo, de tanto remédio que ela tomava. Eu só dei um empurrãozinho... Troquei os remédios de embalagem. Na dosagem das dez horas ela tomou o das vinte e uma, às quinze ela tomou o das dez e às vinte e uma ela tomou o das quinze. Deu um revertério e pimba!
- Pimba?
- É, pimba!
- Mas... E se você enjoar de mim depois? Você vai me matar também?
- Ah, o que é isso, meu amor... Eu te amo! Jamais cogitaria de fazer algo assim com você! O que você quer que eu faça para você se acalmar? Quer que eu vista aquela calcinha com cinta-liga para você me chicotear? Quer queimar meus mamilos com cera de vela derretida?
- Hmmmm...
- Vem aqui, sua danada, que eu quero te matar. Te matar de prazer!
- Ah, seu... Seu... Seu bandidão!
- Sim, eu sou o seu bandidão. Vem cá, vem, com o bandidão!
- Tá bom... Eu aceito me casar com você.
- Ah, que maravilha! Estou tão feliz!
- Mas com uma condição...
- Me diga, minha querida. Qual é a sua condição! Eu faço o que você quiser! Eu já disse que sou louco por você!
- Aquela sua filha... Eu sei que você a ama e tudo mais. Só que eu duvido que ela vá me aceitar no lugar da mãe dela.
- Será? Mas a minha filha é uma garota tão compreensiva... Já é adulta! Ela vai entender que você não estará tomando o lugar de ninguém. Eu acho, pelo menos...
- Vai por mim, querido. Eu entendo as mulheres melhor do que você. Perder a mãe assim, de repente, é um trauma insuperável. Ela vai me odiar assim que eu botar os meus saltinhos-agulha no assoalho daquela mansão.
- É... O que você diz tem lá sua lógica... Ela pode mesmo se tornar um problema... Mas o que você sugere que eu faça?
- Livre-se dela.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quer teclar? Pergunte-me como.

Hoje vamos analisar a lista de contatos do messenger mais popular do mundo: o MSN.
Para quem não sabe o que é MSN, aqui vai uma introdução: Deus criou o homem. O homem criou o MSN. Mais detalhes na Wikipedia.
Já quem apenas faz que não sabe o que é MSN (“eu uso skype”), vai correndo ali na esquina que estão precisando de você para um instigante debate sobre as diferenças gritantes entre Coca e Pepsi.
Aos que sabem muito bem o que é MSN, e já se autoescravizaram no bate-papo virtual, vamos ao que interessa.
Na lista de contatos do MSN, existem quatro maneiras de se apresentar aos amigos: ausente, ocupado, invisível e disponível. Atentem que eu coloquei disponível por último, apesar de que, via de regra, seria o status principal de apresentação de um messenger. Mas em tempos individualistas, ninguém realmente quer estar disponível. Portanto começaremos nossa análise pelo ausente.
O ausente é aquele tipo antipático que não tem pudor em ser desagradável. Interagir com outras pessoas pra ele, mesmo que de forma virtual, é uma experiência incômoda. A bolinha laranja defende a seguinte premissa: “olha, eu até estou aqui, mas faz de conta que não estou, okay?”. Se você ainda tiver disposição para insistir e puxar conversa (que, neste caso, invariavelmente começa com “oi, você está aí?”), ele ainda vai demorar um ou dois minutos para responder, num esforço patético de simular que realmente estava ausente. É um depressivo crônico que nunca conheceu o amor na vida e vai morrer sozinho, pois todos os seus amigos estarão ausentes no seu funeral.
O ocupado é uma verdadeira fraude humana. Afinal de contas, vamos combinar, ninguém realmente ocupado tem tempo de entrar no MSN. É o tipo de pessoa que se esforça demais em mostrar mais do que realmente é (e geralmente não é de nada). A bolinha vermelha urge em alertar: “estou ocupado, interaja comigo por sua conta e risco”. A ocupação, no caso, quando muito, é algo do gênero um looping infinito de visualizações do vídeo de cinco segundos da marmota dramática no Youtube. Trata-se de alguém com um agravante histórico de psicoses mal elaboradas. Guarde estas palavras: em um dia qualquer, o ocupado do MSN ainda vai pegar o seu carro e atropelar a primeira passeata de ciclistas que aparecer.
O invisível é tipo mais perigoso. Você pensa que ele está offline e, de repente, aparece uma caixinha de mensagem, assim, do nada. Sequer tem tempo para um “olá, tudo bem”. O invisível já desova, de cara, links de sites e blogs recheados de teorias da conspiração. Ah, claro... O invisível sofre de transtorno paranoide e carrega a tiracolo uma extensa coleção de TOCs. É um verdadeiro milagre ele ter um perfil no MSN. E passará todo o tempo tentando lhe convencer que a Microsoft rastreia todas as suas mensagens e que a internet é um grande plano diabólico de domínio global, seja qual for o bandidão da vez. Ele não vai sossegar enquanto não atingir o seu objetivo: trazer você para o universo da bolinha branca.
Por fim temos o disponível. Um chato insuportável. A bolinha verde ilustra um tipinho obcecado por interatividade do qual você se arrependeu de ter passado o contato. Ele trocou todas as letras da sua caixa de mensagens por emoticons animados e cada frase que ele posta é um árduo exercício de criptografia. O disponível lhe faz considerar seriamente a possibilidade em se tornar um ocupado, ausente ou invisível, o que vai acarretar em graves conseqüências para o seu bem-estar emocional.
Assim, concluindo esta análise, podemos perceber que, seja qual for o tipo de status, freqüentar o MSN pode ser uma experiência totalmente prejudicial à saúde física e mental. Um verdadeiro cianureto virtual. Mas nem tudo está perdido. Antes que você se desespere e resolva tacar fogo no seu personal computer (ou em você mesmo, caso seja um invisível), arrisco sugerir algumas atividades saudáveis que estavam muito em voga no século passado: ler um livro, sair pra dançar, fazer sexo ou qualquer outra coisa que não envolva um mouse, uma tela de LCD e uma webcam.
Agora, se você já não consegue mais viver sem teclar... Se sua vida não faz mais sentido sem conectar o seu MSN... Então se joga! Vai com tudo, porque todos sabemos que o ciberespaço é a nova televisão: uma experiência sem volta. Apenas tenha sempre em mente o mantra dos comerciais de bebida alcoólica: aprecie com moderação, seja qual for a cor de sua bolinha.