domingo, 4 de janeiro de 2009

O suplício da jaca

(Postado originalmente em 03/11/2008)

Querido diário,
sábado eu enfiei o pé na jaca repetida e contundentemente que a coitada ficou irreconhecível para o exame de corpo e delito. Eu estava feliz e precisava extravasar esta emoção. Não deu outra! Caí na noite e fui dançar numa boate gls badalada, pois era o ambiente ideal para comemorar a nova fase de minha vida. Todo mundo sabe que, teoricamente, é o lugar mais divertido na noite da cidade grande. Drag queens, house music, luzes coloridas e muita alegria!
Chegando lá decidi ultrapassar todos os limites do bom senso: no total foram TRÊS LATINHAS de Smirnoff Ice. Nossa, fiquei muito louco! Dancei a noite toda! Cantava junto com as músicas. O que gerou um certo clima, pois o público habitué ficava me olhando de canto de olho como se eu fosse a coisa mais alienígena da face da Terra. A teoria de que boate gay é um ambiente libertário caiu por terra naquele momento. Puxa, quando esta gente desaprendeu a se divertir? Será que vão se entregar assim tão fácil à diretriz evolutiva de que seremos todos esguios, albinos, sem pêlos, com uma cabeçona enorme e, o pior de tudo, sem emoções? Bem, Darwin que me desculpe, mas eu estava mesmo disposto a curtir à moda antiga.
A festa rolou sem maiores surpresas... Pra mim, né, porque para o resto do povo eu fui a surpresa! Mas, como arroubo de espontaneidade não é crime, eles que fiquem no seu canto, chocados, enquanto eu me divirto.
Depois de esvaziar a terceira latinha do drink, eu precisava ir urgente no banheiro esvaziar também outra coisa. Só que foi um momento de pânico: a fila era enorme e modorrenta. E nem todo mundo foi ali para fazer número um ou dois. É o tal do número três: três pessoas entram juntas no reservado para fazer experiências lisérgicas. Olha, nada contra, viu, mas sejam mais rápidos nesta brincadeira. As bexigas alheias não são muito compreensivas e pacientes. Sinceramente, eu sou a favor da descriminalização do número três só para poder desenterditar banheiro de boate. É um horror ficar apertado esperando terminar festinha particular no reservado!
Bom, depois de resolver a questão fisiológica, resolvi circular no ambiente para ver se achava algum amigo. Não tinha. Ou, se tivesse, ele provavelmente preferiu se omitir diante do meu estado, digamos, surpreendente. De qualquer forma, acredito não ter cometido nenhuma grosseria. Sou do tipo bêbado lúcido, e não amnésico.
E nesta volta que eu dei, me deparei com algumas situações comuns de casa noturna de público alternativo. O que me provocou alguns questionamentos. Por exemplo: namorada de DJ que fica grudada na canela do cara e olhando pro povo na pista como se fosse uma praga de gafanhotos querendo abocanhar a sua espiga de milho. Ah, por favor, é até compreensível que o DJ, por ser a estrela da noite, receba cantadas. Mas se você não confia no rapaz com quem se relaciona, nem perca suas noites de sono (literalmente) fazendo cara feia para quem não quer vê-la. Vá procurar, então, um cantor de churrascaria para namorar (a não ser que velhinhas de cabelo lilás também representem um perigo em potencial). Outra coisa é a tal da dark room, a sala com zero de iluminação onde tudo pode acontecer. Mas eu me pergunto: por que os adeptos do sexo casual só conseguem praticar sua libertinagem no breu total? O que aconteceu com os idos tempos do Studio 54, onde Bianca Jagger entrava na pista nua montada num cavalo branco?
É estranho que os homossexuais, hippies e outros lunáticos tenham lutado tanto pela expressão do amor livre apenas para repetir alguns comportamentos viciosos da cultura judaico-cristã como culpa, vergonha, cinismo e soberba. O famoso carão. A obsessão com a estética apático-chic é tanta que conseguiram vingar o modismo absurdo de usar óculos de sol em plena madrugada. Como se a boate não fosse um lugar escuro o suficiente. Não sei como Herchcovitch ainda não lançou uma linha de bengalas para esta gente.
Mas enfim, deixa eles, desfilando impassíveis com a suas calças Diesel falsificadas, que a minha diversão é legítima. Voltei para casa quando já estava amanhecendo. Feliz por me permitir curtir cada momento da noite e já imaginando a ressaca de mais tarde quando acordasse. Já me prometendo não beber TANTO da próxima vez.

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