domingo, 27 de setembro de 2009

Agá minúsculo

Agora não tem mais volta. Chegamos num ponto onde é preciso repensar o papel do homem na sociedade. Por uma questão de sobrevivência. Do próprio homem.
Com base em estatísticas alarmantes, o Ministério da Saúde lançou uma campanha nacional em prol da saúde do representante do sexo masculino. Os dados são cruéis: de cada três mortes, duas são de homens. E mais! Homens vivem, em média, sete anos a menos que as mulheres. Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Porque você é homem.
Bem, muitos podem pensar: estas malditas mulheres são tão ordinárias que fazem de tudo pra derrubar seus adversários na guerra dos sexos. Mas antes se tratasse meramente de uma picuinha sexista o motivo deste assustador machocídio. A bem da verdade, a culpa é do próprio homem e suas atitudes. Mellhor dizendo: a culpa é da testosterona.
Sim, isso mesmo... Homem morre mais por quê?
Morre porque é filho-da-puta mesmo! Adora bancar o valentão. Tem que provar que pode mais custe o que custar. Precisa deixar claro que ninguém manda nele. Acha que levar vantagem em tudo é bacana. Fica mexendo com todas as mulheres, inclusive com as que deveria deixar quietas. Aí, já viu...
Com homem é assim: tudo termina em confusão, briga, alta velocidade, intransigência e excesso de confiança. Só pode dar merda mesmo.
No fim, quem tem culhão entrou pra lista das espécies em extinção. É o fim da Era do Falo. Ninguém fala mais nada! Se dá bem quem escuta, observa, pensa e depois age. É a Era do Bom-Senso. Talvez antigamente, quando a sociedade não era nem um pouco sofisticada, as coisas poderiam se resolver no muque. Mas era uma época em que todo mundo batia as botas cedo, então a expectativa era mais de morte do que de vida. Vivemos outros tempos, com todos os avanços sociais e tecnológicos que se pode imaginar. E, hoje, bancar o fodalhão é assinar o atestado de óbito.
Mas não adianta o Ministério da Saúde lançar uma campanha dizendo aos homens para beber menos e irem mais ao médico. Primeiro que eles fazem o que bem entendem. E usam a bebida como aditivo de valentia. Segundo que eles só são corajosos até a página dez. Morrem de medo de sentir dor, de tomar remédio, de ir ao médico e encarar diagnósticos preocupantes. É nestas horas que as mulheres dão um baile nos homens.
Uma campanha deste porte, para funcionar, teria que minar o alicerce do bofismo suicida. Sim! Ser machão não está com nada! O mote ideal da campanha seria: VIRE GAY E VIVA!
Pensem comigo: gays tem um estilo de vida muito mais tranqüilo, são pacíficos, cultos, disciplinados em relação à saúde e esbanjam cordialidade. Aposto que, numa contagem de homens com maior longevidade e qualidade de vida, é fácil encontrar muitos homossexuais encabeçando a lista.
E tem mais! Não existe briga em boate gay. As competições no meio não colocam em risco a integridade dos meninos. O maior atrito que rola é de ver quem tem a camisa mais descolada ou o bronzeado mais perfeito. Sem falar que eles tem um estilo de vida baseado nos ideais de sustentabilidade. Perfeito para os dias atuais onde as coisas andam meio fervidas. Aliás, ferveção para os gays é fazer amor e não a guerra. Sem falar que é uma opção econômica. Porque não casam e tem uma penca de filhos. E todo mundo sabe que filho é um gasto que começa com fralda e termina com universidade particular. Tudo é uma questão de números.
Bem, para aqueles bam-bam-bans que estão confusos, frustrados por terem se dedicado a uma vida de marra, tentando provar quem é mais caralhudo, e que agora se sentem perdidos, aqui vão algumas dicas de como abrir mão deste modo de vida tão nocivo. É muito fácil e não dói nada. Só precisa perder o senso do ridículo e lembrar que ridículo mesmo é morrer cedo.
Dica número 1: esqueça o rock e adote a dance music. Sim, está comprovado que guitarras distorcidas elevam o pico de testosterona nos homens, fazendo-os beber mais, ficarem mais agressivos, enfim... Disso pro caixão é um pulo. Traga a dance music para a sua vida. É um estilo inofensivo, totalmente “hands up in the air”! Sem falar que rebolar ajuda a queimar calorias e controlar o colesterol. Diga não a Metallica, Rage Against the Machine e Guns’n’Roses. Diga sim a Village People, Cher, Que Fim Levou o Robin, Locomia e perceba como soltar a franga numa pista de dança produzirá endorfinas essenciais para a sua qualidade de vida.
Dica número 2: ser gay é ser colorido. Estudos indicam que a psicodinâmica das cores é um fator decisivo na qualidade de vida dos seres humanos. Então, pensem: o que vai ser dos homens que só usam preto, bege, cinza e azul-marinho? Uma vida apática, sem estímulo e sem sentimentos positivos. É claro que mudar isso pode ser complicado, até porque existe todo um impacto social. O famoso “dar na pinta”. Mas trata-se de um processo que pode ser feito de forma gradativa. Por exemplo: se você já usa vermelho, pode migrar para o cereja, que é uma cor-de-burro-quando-foge, que ninguém sabe se é vermelho ou rosa. Fica aquela dúvida pairando no ar. Daí pro pink é um salto. Você tem um arco-íris à sua disposição! Um mundo mais colorido é um mundo que vive mais. Bege é de morrer!
Dica número 3: adote gestos afetuosos. Nada de soquinho no braço, nada de levantar o dedo médio e, o mais importante, nada de ficar coçando o saco de 15 em 15 minutos. Experimente abraçar, beijar, afagar! Sim, existe uma energia em você que precisa ser liberada. Mas pra que liberá-la numa queda de braço? A gente já sabe que produzir testosterona é pedir pra subir no telhado. Então vamos direcionar esta energia para algo positivo. Comece com um laboratório lúdico de Uva, Pêra, Maçã ou Salada Mista e depois é só correr (literalmente) pro abraço.
Dica número 4: reveja seu repertório de assuntos. Futebol é um veneno para os homens. Só termina em tragédia. Esta coisa de competição esportiva é uma viagem sem escalas pra cova. Estude astrologia, cabala e faça um workshop de dieta com alimentos orgânicos. Assim a conversa fica mais zen, o homem fica mais harmonizado com o ambiente e garante aí mais uns anos de vida!
Bom, poderia enumerar uma série de outras dicas. Mas essencialmente é isso. Seja mais mole. Nada de bancar o durão. Não está em jogo o que você gosta. Não importa se o seu negócio é piroca, perereca, pororoca ou pururuca. O importante só é a atitude cor-de-rosa. Bem fresco mesmo. Porque em dias de aquecimento global, só o frescor salva!
Agora, se você, homem, não abrir mão do seu machismo-alfa nato, tudo bem. Só não diga que não foi avisado, pois quem prefere bancar o comedor vai acabar comendo grama pela raiz logo, logo.

domingo, 13 de setembro de 2009

A vida vale a pena

Eu sou ex-presidiário. E fiquei preso por 33 anos. O meu crime foi ter nascido. Sim, a vida vale a pena. A pena máxima.
Mas eu não estou totalmente livre. Estou em liberdade condicional. Consegui por bom comportamento. Meus movimentos são monitorados pelo sistema o tempo todo. Qualquer passo em falso e eu volto para a prisão. Para mais 33 anos. Mas por mim tudo bem. A vida aqui fora não é muito diferente do que lá no presídio. Eu vivi a minha vida inteira preso dentro de um espaço confinado, imaginando como seria o mundo lá fora. E eu imaginava um lugar cheio de aventuras, de possibilidades, de alegrias e de diversão. Mas chegando aqui fora, eu pude perceber que as coisas são bem diferentes.
Aqui fora é um lugar que tem mais grades que a prisão. E gente mais perigosa também. Pior, gente perigosa com o aval para agir ao seu bel-prazer. Por conta deste impasse artificialmente implantado, as pessoas passaram a não confiar mais umas nas outras. O preconceito se tornou uma arma de defesa para se preservar num mundo onde você não sabe o que pode esperar do próximo. E todas as pessoas que se permitem, que baixam a guarda, que se desnudam diante do constrangimento instaurado, são tachadas de malucas. E também são isoladas de alguma forma.
Entre malvados, medrosos e malucos, o resultado da soma tem mais dígitos que o planetinha gostaria de suportar. Outras espécies de seres vivos estão tendo que dar licença de sua existência para que os seres humanos possam se multiplicar descontroladamente.
É uma guerra perdida. E qualquer um que nasça nos dias de hoje, seja rico ou seja pobre, está cometendo um crime de guerra.
Em vista de um mundo que está indo pro buraco, com uma humanidade saturada que consome todos os recursos do planeta indiscriminadamente, só existe uma atitude digna a ser tomada: castrar-se. Você vai colocar um filho no mundo pra quê? Pra fazê-lo competir com outros milhares por uma oportunidade cada vez mais inexistente? Pra deixá-lo a mercê de toda sorte de violência que já se tornou uma divindade cultuada com toda a onipresença e onipotência típica de um deus? Pra torná-lo uma triste estimativa numa civilização que caminha para o colapso?
Deixe seu coração de lado e use só a cabeça. Pensar em ter filhos é um equívoco neste mundo. Decidir tê-los é um erro. Tê-los é um crime. Um crime contra o Planeta Terra.
Pode parecer a coisa mais fofa montar um álbum de fotos com os primeiros passos, o primeiro dente, o primeiro aniversário. Mas Gaia, a Mãe-Terra só olha e diz: porra, mais um!
E ele já vai nascer preso. O mundo se tornou uma grande prisão. A liberdade é só uma grande fantasia fomentada pelos espetáculos de fantasia que existem para aliviar a dor.
De qualquer forma, você pode decidir alimentar esta fantasia. Okay, okay... Afinal, você é só um ser humano. Cheio de sonhos, blá blá blá... Mas se você resolver seguir seu coração... Se você resolver tomar esta atitude egoísta e cometer o crime de ter um filho... O problema é todo seu. Vai fundo. Vai lá parir um filhote. Vai lá enchê-lo de esperanças. Mas saiba que, a partir deste momento, você é um criminoso.
E, uma vez criminoso, jamais poderá apontar o dedo. Seja para quem for e seja para o que for. Jamais poderá julgar qualquer um. Não poderá criticar as pessoas que baixam músicas e filmes de forma ilegal da internet. Nem os que buscam alento num cigarro de maconha. Tampouco os promíscuos que se perdem nas sombras da noite em busca de algum alívio para a alma. Porque são todos meros criminosos. Iguais a você.
Todos nós, por sermos usuários de oxigênio, somos criminosos em liberdade condicional. A não ser que você seja maluco. Daí é outra história... Eu estou entrando com um recurso para atestar minha maluquice. Se o tribunal aceitar a alegação de insanidade temporária no momento da concepção, possivelmente serei encaminhado para um hospício, onde encontrarei muito mais gente maluca como eu. Pelo menos, assim, a vida será mais divertida.