Você conhece a suástica? É aquela cruz que parece um catavento.
Bonitinha até. Adoraria tê-la criado. Só que a autoria não é minha. E nem tem
como saber muito bem de quem foi. Pois ela já era utilizada por budistas,
hindus, astecas e uma porrada de povinhos mais antigos que Adão e Eva. Coisa de
bem lá atrás mesmo! Pergunte a qualquer bom arqueólogo e ele irá confirmar. Ou
vá na Wikipedia, mais fácil. Ela é um bom exemplo para ilustrar que a arte é
tão antiga quanto o homem.
É também conhecida como cruz gamada e representava um monte de coisas
bacanas como felicidade e boa sorte. Tipo um trevo de quatro folhas de nossos
tatatatatatatatatatatataravós (desculpa, não sei quantos “tatás” preciso
escrever para chegar ao berço da civilização). A suástica desenha tão bem e
significa tantas coisas boas que eu até a tatuaria no meu corpo. Se não fosse por
um único porém: um rapaz chamado Adolf Hitler chegou antes de mim e a tatuou na
história da humanidade.
Por causa deste notório austríaco, a suástica hoje representa o que há
de pior no ser humano. Tornou-se um símbolo abominável e evoca a grande
atrocidade que foi o nazismo. Logo, não sugiro estampá-la na roupa. Sequer no
corpo. E não adianta remeter à ancestralidade do cataventinho conceitual que
não vai rolar, meu bem! Você pode até ter o bigodinho do genocida desenhado na
sua periquita, mas a suástica pode esquecer! Melhor tatuar um asterisco e
torcer para que nenhum megalomaníaco o use como logotipo no futuro.
Pois é assim que funciona esse lance muito doido chamado cultura:
símbolos e ideias são reféns de quem os propagam. E estarão à mercê das ações
destes mesmos indivíduos. Logo, um desenho que outrora representava tantas
coisas positivas, pode se tornar uma marca digna de condenação. Assim foi com a suástica. E assim será com a família.
Você conhece a família? É aquela instituição tradicional que simboliza
todo o amor, moral e bons costumes que a civilização tem a oferecer. Deve ser
tão antiga quanto a arte e o homem. Também remete à proteção e legado. Não é
incrível? Mas, de repente, você me interrompe para a pergunta que não quer
calar: o que a suástica tem a ver com família? Ao que eu respondo para calar a
pergunta: tem muita coisa a ver!
Atualmente o que é a família senão um símbolo que procura
evocar toda a sorte de valores sólidos e respeitáveis? Isso mesmo! Estou
falando daquele monte de bonequinhos de palitinho horrorosos enfileirados lado
a lado na traseira de automóveis que, além de tudo, informa o sequestrador com quantas
crianças ele pode fechar negócio. Mas o que vale é a intenção do desenho, não
é?
Família é um tema universal. Sempre tem alguém que coloca a família em
primeiro lugar. Ou que sente saudade da família. Que deve tudo a ela. Ou,
inclusive, que não se dá muito bem com a parentada e, por isso mesmo, vive arrastando
corrente.
Ou pelo menos vivia.
A família está na corda bamba. Junto com a moral e os bons costumes, ela
está no paredão deste imenso reality show que é o mundo. Algumas pessoas que
conseguiram chamar a atenção pelos motivos errados, tipo o serelepe Adolf,
estão querendo fazer dos valores familiares uma nova tatuagem na história da
humanidade. E novamente o desenho vai sair borrado.
A patotinha fundamentalista dos Felicianos, Bolsonaros, Sônias e
companhia limitada (limitada, no caso, ao seu próprio poder aquisitivo), está
cagando no maiô branco do retrocesso. Um belo dia, acordaram e tiveram a brilhante
ideia de anunciar que são os representantes oficiais da família. Mas, peraí? A
família de quem esse pessoal representa? Além da própria, é claro.
A família é a nova suástica. Um ícone que pretendia remeter a coisas
boas até que oportunistas de plantão resolveram usá-lo para fins de campanha política.
E é por isso que as próximas gerações, tal e qual filme de ficção
científica, vão acabar se reproduzindo em laboratório de forma fria e
sistemática. Porque, no futuro, a família será uma ideia pejorativa demais. Tipo um palavrão. Rapaz de família será o novo filho da puta! Esta será a (falta de) sorte de um símbolo
sequestrado por meia dúzia de equivocados que semearam a violência e o
preconceito para alcançar o poder. Tudo em nome da família.
A boa notícia é que o futuro ainda não está escrito. Então não espere o
Schwarzenegger aparecer, assim de repente, na sua sala e falar “hasta La vista, baby”.
A cruz gamada já era. Está morta e enterrada junto com Hitler. E a
família? Acredito que ainda está em tempo de resgatá-la da sarjeta. Ou vamos deixar
qualquer um condenar mais um belo catavento antes que seja tarde demais?
Cataventos não foram feitos para serem enterrados. Mas sim para rodarem ao
sabor do vento.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
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