Meu nome completo é Elysium Palm-Sunday Andrews, mas, como
muitos já perceberam, eu assino minhas obras pela alcunha de Ely Andrews. Além
de escritor de sucesso, sou especialista em medicina ayurvédica avançada,
catedrático em oceanografia paleolítica, mestre em ciências arcanas
sustentáveis e exímio datilógrafo.
Voltando ao motivo do nosso encontro, como se sabe, o ramo
editorial da autoajuda é um mercado em franca decadência. Não está fácil pra
ninguém! Muitos autores consagrados já estão se virando como podem. Lair
Ribeiro abriu algumas franquias da Starbucks em Macapá, enquanto Deepak Chopra voltou
à Nova Déli e inaugurou uma rede de churrascarias.
A queda das vendas no gênero de autoajuda não é por acaso.
Os tempos são outros, a sociedade já entendeu que é responsável pela sua
própria felicidade, todo mundo leu o Segredo, acreditou no poder da
autossugestão e deixou de lado o Almeida Prado 46. Mas chega uma hora que se
precisa de mais! Num mundo onde todo mundo caminha para frente, criou-se a
necessidade de correr para se diferenciar. Claro que eu, na condição de futurólogo
autodidata, já havia percebido isso há muito tempo. Por isso, fiz minha corrida e criei
um novo patamar para a autoajuda. E hoje estamos aqui para falar das maravilhas
da Autoajuda Super. Pois não basta acreditar que se pode ser feliz. É preciso
sambar na cara de quem não dava um pingo de crédito para isso.
Alguns de vocês devem estar se perguntando: “Mas afinal, por
que super? Qual a diferença dessa para a autoajuda clássica?”. A resposta é
simples. A felicidade é como sistema operacional de computador. Outrora já foi
simples, mas, hoje em dia, se você não se atualizar de uma semana para outra,
pode dar adeus à vida. Você não pode ser só você, ou mais você. Tem que ser um supervocê! E é nesse ponto que entram as minhas aclamadas obras.
Por exemplo, essa edição aqui, é o meu xodó, e está no topo
das listas, “Como fazer um bilhão de euros em duas semanas com apenas um atilho
e dois clipes”. Para vocês terem uma noção, um garçom de bar de origem
franco-brasileira chamado Eike seguiu à risca todos os passos desta publicação
e vejam vocês onde ele está agora. Quer dizer, “vejam vocês”, neste caso, é uma
força de expressão, porque ele efetivamente ficou fora do alcance da visão da
maioria de todos nós. O livro aponta a tendência de ninguém mais querer perder
tempo prosperando nos negócios, ter um bom planejamento de vida e construir
bases para um futuro promissor. Nossa, que preguiça! Para que passar tanto
trabalho se existe um atalho para o topo?
Por falar em topo, eu tenho aqui outro dos meus grandes
sucessos de venda que contempla o público feminino: “TPM – Tomada de Poder pelas
Mulheres”. Neste livro eu mostro como um ciclo hormonal com toda a sorte de
variações de humor pode oferecer uma vantagem competitiva ao sexo feminino. Uma
faxineira búlgara que atende por Dilma, depois de ler uma edição de TPM,
alcançou a presidência da república de um país sul-americano em dez dias.
Percebam vocês que, pela autoajuda clássica, haveria todo um incentivo para se
estudar ciências políticas, participar de causas engajadas, ajudar a construir
a história de uma nação... E cortar os pulsos, né? Me digam para que perder
tanto tempo com isso? Mulheres, se vocês acreditam no poder do real feminismo,
daquele que urge todo santo mês, comprem o meu livro e logo terão seu próprio
estado soberano para discutir a relação!
E antes que alguém levante a lebre de que o foco da minha
literatura incentiva o individualismo, me antecipo trazendo aqui meu
recém-lançado volume, mas que já está esgotado em todas as livrarias, com um
tema que engloba toda a família: “Bipolaridade consciente em prol de uma
linhagem de campeões”. Para você que defende o casamento igualitário,
descriminalização das drogas, legalização do aborto e outras causas modernas visando
ficar bem na foto em redes sociais, mas só vai destrancar a sua filha do quarto
aos 21 anos, direto para a igreja casar. Use a bipolaridade como meio de vida, a
fim de explicar todas as suas contradições, e abra todas as portas que você sempre
precisou! Aceitar o outro como ele é, sendo este outro, claro, alguém fora da
sua família, de outra cidade, país ou planeta, lhe dará uma vantagem
competitiva sem precedentes. Afinal, enquanto um estranho segue à deriva
correndo atrás do seu próprio rabo em exaustivos exercícios de
autoconhecimento, você estará fazendo de sua família um case de sucesso, transformando-a
num time de campeões focados em conquistar qualquer coisa que estiver pela
frente. E vai aprender que diversidade é um lindo post de Facebook esperando
para ser curtindo por você. Mas, na vida de verdade, entenderá que a união é
que faz a força. E essa força é você!
Bem, o nosso papo está muito gostoso, mas é chegada a hora
de finalizar o nosso encontro. Estou atrasadíssimo para uma reunião em Cuba,
onde estou coletando material para o meu novo projeto “Como levantar o dedo
médio para uma superpotência mundial e ganhar uma ilha paradisíaca de
presente”. Quaisquer dúvidas mandem uma mensagem para o e-mail que consta no
press kit. Obrigado pela presença de supervocês nesta palestra! Boa noite!
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