Imposto é uma palavra desagradável. É o particípio passado
do verbo impor. E, vamos combinar, ninguém em sã consciência curte imposições.
Mas elas existem. Em forma de percentuais milimetricamente fracionados. Os
impostos, assim como Deus, são onipresentes e onipotentes. Pagamos imposto para
comer, se vestir, transitar, morar, receber o próprio pagamento e até para
aprender. Só falta pagarmos impostos para fazer sexo. Mas as autoridades
liberaram a prática sexual porque entendem que, em caso de fecundação, novos
pagadores de impostos surgirão (o que é interessante para a manutenção da
máquina de arrecadação). É por isso que o sexo entre pessoas
do mesmo gênero não é visto com bons olhos. Homofobia? Nada! Isso foi só uma
desculpa para render pauta na mídia. O que o sistema não admite são duas
pessoas se divertindo sem que alguém de fora possa tirar vantagem disso.
Felicidade não gera cobrança de impostos. Sexo, então, só para fins de
procriação (de tributos).
O homem surgiu, a política nasceu e o imposto prevaleceu.
Antigamente, nas monarquias, essa cobrança tinha uma finalidade clara:
enriquecer o imperador. Com o tempo, a civilização evoluiu e hoje temos a
democracia, onde o papel dos impostos mudou. Atualmente se paga para garantir
as condições básicas da gestão pública. E, por “gestão pública”, entende-se jatinhos
particulares, latifúndios rurais e mansões suntuosas em ilhas paradisíacas. Ou
seja, só o essencial.
Acontece que os impostos cobrados não são suficientes. Acaba
faltando para algumas outras coisinhas surpéfluas. Tipo saúde, educação,
segurança e outras chatices das quais algumas pessoas inconvenientes vivem se
queixando. Que porre! Como os luxos pessoais das autoridades não podem deixar
de ser prioridade, a solução é criar novos impostos para garantir estas despesas
extras. E calar a boca desses reclamões! Sendo assim, no intuito de unir o útil
ao agradável, aqui segue algumas sugestões de impostos que podem otimizar essa
arrecadação extra necessária:
- IPEDVCDVM (Imposto sobre Produto Excedente a Dez Volumes
no Caixa de Dez Volumes do Mercado) – Brasileiro só sabe contar até nove.
Depois disso, qualquer número é dez. É só olhar na fila de dez volumes no caixa
do mercado. Carrinhos com quinze, vinte, trinta volumes. Cobrando o imposto
sobre cada produto excedente ao décimo, teremos uma forma eficiente não só de
arrecadação, como também de ensinar fundamentos básicos da matemática a todos
os cidadãos. Enfim, um imposto realmente direcionado à educação!
- ISRRR (Imposto sobre o Selfie de Refeição em Restaurante
Refinado) – É feio exibir fartura num mundo onde tantos passam fome! Mas, com a
criação deste imposto, ao menos é possível fazer isso com a consciência em dia.
Compartilhe virtualmente sua gula com tranquilidade, sabendo que a cobrança da
postagem vai garantir um prato de comida a alguém necessitado.
- IUALKCRS (Imposto sobre Uso Abusivo da Letra K em
Comentários de Redes Sociais) - “KKKKKKK”? Jura? Vamos combinar: ninguém ri
assim, de risada histérica. Num mundo violento, injusto e cruel, com tanta cobrança de
impostos, só quem ri dessa forma são as pessoas podres de rica. E elas nem usam
internet. Desconhecem completamente o função do K digitado em série. Preferem se
divertir usando seres humanos de verdade. Já aos reles mortais, quando muito, sobra a oportunidade de um sorriso tímido, quiçá uma risadinha irônica. Então,
está na hora de usar uma expressão de gracejo na internet que seja condizente
com a realidade do internauta. O imposto para cada letra K digitada em série e em
caps lock se tornará um rentável tributo e uma eficiente lição de adequação à
realidade aos fanfarrões virtuais.
- IIICD (Imposto sobre Igrejas Inventadas que Cobram Dízimo)
– E se o Templo de Salomão pagar IPTU? Talvez seja esta a criação de imposto mais urgente. Está crescendo em
progressão aritmética o número de porta-vozes religiosos que enriquecem em
progressão geométrica através da boa fé (e da parca renda) de uma considerável parcela
da população. Uma equação que envolve carisma, fábulas bíblicas, privilégios legais e falta de instrução das massas. E o resultado é preocupante. Tudo
às custas de baratas tontas sugestionáveis que nunca irão fazer o selfie de refeição
em restaurante refinado, pois o dinheiro que usariam pra comprar smart phone e registrar o almoço, destinam ao dízimo. Perpetuando, assim,
um ciclo de ignorância e retrocesso que sustenta a desigualdade social e emporcalha o real conceito de espiritualidade. O exercício de fé é pessoal é intransferível. Mas tem muito líder religioso por aí que aceita transferência, a bancária. Garantindo, portanto, que a humanidade siga se
diferenciando dos outros animais. Até porque bicho não se aproveita dos seus
semelhantes. Ou alguém já viu vaca cobrando sobre o seu leite ordenhado? E
abelha, sobre o mel, alguém sabe?
Bem, esses foram só alguns apontamentos e sugestões. Que
provavelmente nunca se concretizarão de fato. Por ser tratarem de uma piada. Ou
de algo sério demais. Enfim... A mim, só resta seguir escrevendo lorotas e
criando provocações. Antes que alguém invente o ITEOAP (Imposto sobre Textos
Engraçadinhos que Oferecem Alguma Perspectiva).
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