quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Meia palavra basta

- Olha só quem eu encontro aqui!
- Nossa, que surpresa! Quanto tempo, hein?
- Desde a faculdade...
- Que bom esbarrar em você. Só que estou atrasado para um compromisso. Podemos nos falar outra hora? Você tem Facebook?
- Não tenho, não. Eu não confio muito nestas redes sociais...
- Entendi.
- O quê?
- “O que” o quê?
- O que você entendeu?
- Hmmm, nada não.
- Não foi o que você disse. Tenho certeza de ter escutado com todas as letras: “entendi”.
- Sim, eu disse isso... Mas...
- Nada de “mas”... Desembucha: o que tem pra ser entendido?
- Nada ué.
- Não desconversa! Eu quero saber o que você pescou do que eu falei. Quem mandou você aqui?
- Ninguém me mandou aqui! Eu só estava passando e...
- Você está me seguindo desde a faculdade?
- Não seja louco!
- Louco eu estou pra saber o que você entendeu do que eu falei a respeito de redes sociais. O Zuckerberg te mandou aqui?
- Zucker quem? Olha, eu não estou gostando do rumo desta conversa. Você está equivocado nas suas suposições.
- Então qual é o problema? Esse “entendi”, por acaso, é algum julgamento por eu não ter um perfil no Facebook?
- Não! Nada disso... Eu só... Olha, eu estou mesmo atrasado. A gente se fala.
- Querendo fugir, hein, espertinho? Não sem antes você me dizer o que você entendeu.
- Olha. Fica tranqüilo... É só uma maneira de falar. As pessoas dizem “entendi” o tempo todo.
- Mesmo quando elas não entendem nada?
- É. Acho que sim.
- Hmmm. Entendi.
- Ufa, ainda bem que entendeu.
- Não, na verdade não entendi nada. Mas como você diz que as pessoas falam isso mesmo quando não entendem, resolvi dizer. Entendeu?
- Olha, eu já não estou entendendo mais nada. Posso ir embora?
- Ah, já sei. Você, através desta resposta misteriosa, “entendi”, você introduziu, de forma subliminar, um julgamento preconceituoso. Tipo: “é um daqueles atrasados que não tem rede social”. A ponto de me constranger e me fazer criar um perfil no Facebook. E só assim, ter ferramentas para bisbilhotar a minha vida.
- Hã?
- Vamos! Desembucha! O que você quer saber da minha vida? PERGUNTA NA MINHA CARA!
- Olha, amigo, você está realmente me assustando. Eu não quero saber nada! Eu não quero entender nada! Por favor, SÓ ME DEIXA EM PAZ!!! Eu tenho um compromisso e não posso ficar aqui sustentando esta discussão maluca!
- Ai, desculpa. Desculpa. Tudo bem... Eu me descontrolei. Eu sou meio assim às vezes. Um pouco desconfiado.
- Credo... Você me parecia mais sossegado na faculdade...
- Bem, a vida não tem sido fácil, então a gente acaba desenvolvendo algumas defesas ao longo do tempo. Enfim...
- Sei...
- O quê?
- “O que” o quê?
- O que você sabe?

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