sexta-feira, 1 de abril de 2011

Tic-tac

Por favor, não cheguem perto de mim. Todos correm um grande risco de vida quando se aproximam. Eu posso explodir a qualquer momento! Eu sou um homem-bomba! Não estou aqui em nome de nenhuma facção religiosa e/ou política. Minhas explosões não seguem este critério. E também não preciso de nenhum tipo de explosivo químico, industrial, nitroglicerina, nada. Nem mesmo de Menthos com Coca-Cola. Eu já nasci assim, com o dom da combustão espontânea. Cada cidade que eu chego entra automaticamente em estado de atenção. Junto com terremoto, tsunami e vazamento de reator nuclear, eu sou considerado uma calamidade pública.
Já fui estudado por renomados cientistas nestas minhas décadas de existência, mas ainda não se chegou a um consenso sobre a origem de minha tendência destrutiva. Alguns especialistas defendem a hipótese de que uma personalidade agressiva, somada a uma hipersensibilidade emocional e aditivada por anos de mingau de farinha láctea compuseram um quadro de catástrofe eminente. E enquanto não chegam a uma conclusão definitiva, o número de vítimas de meus acessos só vem aumentando.
Muitos acreditam que seja um desígnio do Criador. Outros dizem que é coisa do demônio. Há quem acredite que a minha mãe comeu muita comida mexicana na minha gravidez. Eu não sei responder porque eu sou, assim, tão explosivo. Apenas sei que basta um movimento em falso e tudo vai pelos ares. É só eu ficar ansioso e kabum!
Por conta disso, eu já explodi muitas empresas, no momento em que fui fazer entrevista de emprego. Não é fácil ficar frente a frente com aquele diretor de marketing analisando friamente o seu currículo. Aquele silêncio angustiante. Na primeira flexão enigmática de sombrancelha do entrevistador eu detonava. Já levei cinco multinacionais à falência por conta disso. Dentista só me trata com anestesia geral. E fila no banco não é problema pra mim. No que eu chego na agência, aquela gente amontoada se abre para eu passar, como se fosse a passagem bíblica do Mar Vermelho. Amigos só virtuais em redes sociais. Que é para manter uma distância segura.
Já criei o entendimento de que eu deveria viver só. Assim eu não crio expectativas em relação às pessoas, não alimento sentimentos e, portanto, não explodo. Mas existe uma coisa denominada “o chamado da natureza”. É chato ficar sozinho. Inevitavelmente acabo sonhando com uma companhia aprazível, para se passar bons momentos. Mas o sonho sempre vira pesadelo. A lista de pretendentes que eu já explodi enche um caderno de dez matérias. Se não é no flerte desajeitado no bar, o hecatombe sempre chega no clímax do ato sexual. Não tem jeito, sexo comigo é bombástico. Literalmente. Tanto que, por decreto, estou proibido de freqüentar qualquer motel, sauna ou casa de suingue.
Já me propuseram de tudo para, se não resolver, pelo menos amenizar o meu problema. A começar pelas drogas, sejam elas controladas ou descontroladas. Mas eu prefiro não tentar, porque pode dar um efeito rebote, entrar numa bad trip e promover o Apocalipse antes de 2012. Outra solução que me apresentaram foi o caminho da espiritualidade: meditação, regressão, terapia de vidas passadas, oráculos, e mais uma série de técnicas desconcertantes. 90% delas envolviam a utilização de incensos com cheiro de sabonete queimado. Estes dias eu aceitei o convite para jantar com uma pessoa interessante. Por conta e risco dela. Felizmente deu tudo certo, bastou eu me entupir de suco de maracujá e não tomar café na saída. Gostei dela, mas começou a bater uma aflição! Será que ela também gostou de mim? E como será o segundo encontro? Será que vai funcionar? O que veio primeiro: o ovo ou a galinha? Eram os deuses astronautas? Por conta de minha fase espiritual, resolvi jogar o iChing. O hexagrama sugeriu fracasso tanto na atitude de pressa quanto na desistência. Sucesso apenas na perseverança que faz as coisas acontecerem no seu tempo . Maldita filosofia ancestral chinesa! Como um povo que não consegue parar de procriar vem me falar de equilíbrio emocional? Explodi o livro com moedinha e tudo.
Hoje, eu penso que, ao invés de tentar solucionar esta situação, eu devo parar de encarar meu dom de explodir como um problema. E começar a enxergar como uma oportunidade. Venho promovendo uma campanha de explosão voluntária que está em turnê por todas as regiões do país. Já explodi postos de pedágio em estradas sem manutenção, cultos religiosos que extorquem o dinheiro dos pobres, prefeituras de cidades mal administradas (muitas, por sinal) e também tenho explodido trio elétrico de cantoras de axé, porque ninguém merece. Daqui parto para Brasília, onde pretendo promover uma explosão apoteótica, com direito a show de fogos, no intuito de varrer o histórico de corrupção que se perpetua neste país. Espero conseguir com isso um tremor de 9,2 na Escala Richter, até porque o povo brasileiro anda precisando de uma sacudida. Agora, me deem licença. Eu vou nessa porque o meu timer já está contando. Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Um comentário:

  1. Eliandro:
    Seu texto é hilário!
    Só peço uma coisa: qdo fores a Brasília, não deixe de visitar o gabinete do deputado fluminense Bossal!
    Muita gente vai te agradecer
    bjs
    Maurício
    Mellone

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