domingo, 23 de janeiro de 2011

Um vulgar ao sol

Eu tenho uma declaração a fazer: eu ouço vozes... Sim, estou seguro para assumir aqui que eu escuto vozes. Arrisco dizer mais do que isso. Além de vozes, eu escuto o celular tocando, o ônibus arrancando no sinal e o despertador logo pela manhã. Eu ouço também os meus discos. Todos eles... Sério, eu ouço!
Tudo bem, okay, sei que dei a entender que eu era meio maluquinho. Tipo maluquinho no mau sentido, tarja preta. E, no fim, eu só consegui provar que tenho uma boa audição (mais ou menos, na verdade, o ouvido direito não funciona muito bem).
Mas antes que vocês desencanem totalmente desta figura desmiolada que aqui se apresenta, eu tenho outra declaração a fazer: eu vejo aliens. Sei que é difícil de acreditar, mas a verdade é que os vejo. Todas as semanas. Lá em casa. Mas eu não vejo todos. Apenas os que tem participação da Sigourney Weaver. Esta nova franquia aliens versus predadores, eu não me interesso... O que foi? Pensaram que eu estava falando de extraterrestres? Ah, não. Até, porque, vamos combinar: que vida inteligente fora da Terra viria pra cá em sã consciência? Pra dar de cara com o quê?
E se você acha isso pouca coisa, minhas revelações não param por aqui. Eu preciso dizer mais uma coisa: eu vejo pessoas mortas. Yeah, baby, I see dead people! E elas estão realmente mortas! E eu converso com elas. Quase todos os dias. Se bem que... elas é que não conversam comigo. É que eu sou legista no IML e me afeiçôo aos cadáveres que eu disseco. Eu os vejo com bons olhos e converso com eles... Ué, o que foi? É a maneira que eu tenho de alegrar a minha rotina... Tanta morte, tanta tragédia... A gente humaniza do jeito que dá, né...
Agora estou começando a sentir uma onda de irritação se formando. E se eu dissesse que Jesus veio até a mim? Sim, só que Jesus no caso... é o nome... do... hã... porteiro do meu prédio... Ele sempre vem a mim... Vocês sabem... Correspondência estas coisas...
Tá, eu parei! Juro que não vou tentar mais parecer um esquisito extrassensorial. Na verdade, eu sou apenas um cara normal, sem graça... Achei que um pouquinho de bobagem poderia me ajudar em termos de popularidade. Afinal de contas, vivemos num país onde todo mundo para tudo só pra assistir um reality show que é um festival de banalidades. Estamos povoando o mundo com subcelebridades que dão o seu melhor: dizem nada parecendo que é tudo. Pensando assim, é possível até que extraterrestres nos visitem uma hora dessas, caso eles sejam parecidos com a gente neste sentido. Vá que gostem de assistir performances vergonhosas e vazias. Justo o que a humanidade vem apresentando.
Se o importante hoje em dia é ser banal e oferecer vulgaridade em troca de atenção, eu estou disposto a me despir de toda a cultura, sensibilidade, valores e outras tranqueiras que me impedem de brilhar e conquistar um lugar ao sol. Pra que ser inteligente? E ética, serve pra quê? Talvez sirva como artigo do museu, para ser exposta do lado da ortografia.
E no meio deste cenário desolador, só há duas saídas. Uma dela é a fuga da realidade. Se entorpecer com ilusões para suportar o fardo de viver num mundo tão cruel. A outra é a infâmia... O deboche... O humor, que serve como um bom filtro pra encarar de frente a crueldade deste mundo.
A propósito... Deus veio a mim e me confidenciou o sentido da vida. Agora é sério! Era Deus mesmo! O Criador! Eu juro! Ei, onde você vai? Volta aqui! O sentido do vida é na outra direção!

Um comentário:

  1. Eliandro:
    Estava com saudades dos seus textos hilários e jocosos!
    Pensei q o Jesus q estava indo a vc não era o porteiro, mas o que foi até a Madonna! rsrsrs
    Sonhar não paga imposto ainda, né?
    Mas se Jesus (não o da Madona, mas o da Madonna com 2 n)chegar a vc, seja um bom cristão: divida o pão!
    bjs
    Maurícoi

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