sábado, 17 de abril de 2010

Cadum cadum

As pessoas são mesmo preconceituosas, viu? Eu fico abobado de ver quantos julgamentos equivocados são dados todos os dias. É uma coisa de louco! Esta mentalidade tacanha, provinciana, atrasada... É muito complicado!
Todo mundo fala mal. “Que é isso é coisa de puta. Aquilo é coisa de viado.” Pra que isso? Por que não podemos ser espontâneos e sermos nós mesmos, sem rótulos? Eu, por exemplo....
Sou um cara que gosta de passar uma tarde de sábado em casa escutando uma boa Sarah Vaughan, uma boa Ella Fitzgerald e apreciando um bom vinho. Mas isso não quer dizer que eu seja necessariamente gay. Muito antes pelo contrário! Acho que qualquer um pode usufruir de boa música e boa bebida em momento contemplativo sem ser rotulado de homossexual. Mas na prática é muito diferente... Basta eu anunciar minhas inclinações que todo mundo começa a olhar atravessado. A Cidinha do atendimento (lá do escritório) é uma que, quando eu falo em Sarah Vaughan, vinho, etc, ela me olha dos pés à cabeça fazendo cara de quem pescou algo. Olha, eu vou dizer: nada a ver, viu? Nada a ver...
Eu também gosto de sair à noite e curtir uma boa pista de dança com bastante música eletrônica. Dançar é ótimo, divertido e faz muito bem pra alma. Mas claro, que, não é porque sou expressivo corporalmente é que eu seja necessariamente gay. Muito antes pelo contrário! Só que as pessoas realmente não entendem! São todas umas travadas que não conseguem nem caminhar direito. Daí quando encontram um sujeito com desenvoltura, já viu... Começam os comentários, as risadinhas... Olha, é muito preconceito... Estes tempos calhou de esbarrar com a Cidinha na porta de uma boate modernosa ali do Centro.... E ela me olhou dos pés à cabeça, fazendo aquela carinha de que pescou algo. Eu vou naquele lugar por causa da música! Por quê? Não pode? Digo e repito: nada a ver!
Outra coisa que muito me apraz é fazer boas compras e poder consumir produtos diferenciados. Afinal, dinheiro não dá em árvore e a gente precisa, de fato, ser exigente e não comprar gato por lebre. Isso vale pra tudo: roupas de marcas conceituadas, bons perfumes, restaurantes bem cotados... Afinal, não é pra isso que damos duro na vida? Mas é só eu aparecer bem alinhado no escritório, bem perfumado, e pronto... Começam as gracinhas... A Cidinha eu nem espero pra ver a cara dela, antes que eu me estresse com as insinuações de que eu sou gay... Ai, nada a ver! Uma pessoa ser bem asseada e ter bom gosto não significa que ela tenha uma orientação sexual diferenciada. Muito antes pelo contrário!
Contudo, a coisa pega mesmo é nas demonstrações espontâneas de afeto. Esses dias encontrei o Bernardinho, o rapaz do financeiro, no almoxarifado e ele estava chorando. Me surpreendi com a cena. O Bernardinho é um cara superbacana, inteligente, sensível, boa pinta... Charmosão mesmo. É uma companhia gostosa... Magnética eu diria até... Mas, tipo assim, na boa, saca? Daí eu vi ele chorando e fiquei realmente curioso se alguma coisa grave estava acontecendo para ele estar naquele estado lamentável. Ele desabafou dizendo que uma angústia se apoderava da alma dele, que ele não estava sabendo lidar com sentimentos conflitantes, que ele não tinha mais paz de espírito para levar a vida... E eu, na medida que fui escutando aquele desabafo sincero, num momento de compaixão e cumplicidade por um colega e amigo, não deixei de me sensibilizar (afinal, sou humano). Segurando minhas próprias lágrimas diante de depoimento tão tocante, lhe ofereci um beijo de alento. Sei lá, não pensei. Deixei rolar. E senti que foi um momento bonito, independente de qualquer coisa. Sem esse papo de “ah, que coisa mais gay”. Muito antes pelo contrário! Na boa, um beijo, cara... Mas adivinha se a Cidinha (sim, sempre ela) não me entra no almoxarifado bem na hora que os meus lábios tocavam os do Bernardinho. Além da olhada dos pés à cabeça e a cara de quem pescou algo, ela ainda soltou um “rá, bem que eu desconfiava”. Eu já respondi: “rá, nada a ver!”
Porra, desconfiava do quê? Não tem nada pra se desconfiar, caralho! Homem não pode ter sentimentos agora? Não pode nem oferecer um pouco de calor humano? Eu fico muito chateado com tudo isso. Eu não canso de afirmar: é preconceito, sim! Qual é o problema?
Bem, para desenvolver estas e outras angústias existenciais, eu e Bernardinho combinamos de viajar pra praia no próximo final de semana. Só nós dois. Assim, poderemos debater melhor estas questões todas que nos afligem. Dois amigos normais, de homem pra homem, na boa.... Longe dos olhares maliciosos desta gente de mente suja que anda por aí.

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