quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O que os olhos não veem

Eu posso ter muitos defeitos. Mas se tem uma coisa que eu banco é ser fiel ao meu marido. Disso eu faço questão de ressaltar. Pois hoje em dia, a coisa está virada numa promiscuidade infernal! Um horror!
Eu amo o meu marido e ele me basta. Estamos juntos há mais de 15 anos e nunca houve nada que pudesse denegrir ou manchar a reputação de nosso casamento impecável.
Bem, houve aquele episódio do ano passado. Mas aquilo nem conta...
É, confesso que teve um teor, digamos (por assim dizer), sexual, mas nem dá pra classificar como sexo mesmo. Então, não conta como traição.
Eu sei que sou fiel ao meu marido e ele me basta. E isso serve de parâmetro para qualquer um. Ponto.
É que... aquele episódio foi uma situação muito particular. Enfim...
Bem, eu vou relatar, só a caráter de curiosidade, que é pra comprovar a minha idoneidade.
Certa vez, no ano passado, meu marido foi para uma convenção empresarial em Santiago do Chile, representando o seu escritório. Ele ficaria fora por duas semanas (mais ou menos) e já na partida dele eu fiquei morrendo de saudades. Sério, juro! Eu sou louca por aquele homem!
No dia seguinte à sua partida, eu estava bem tranquila na minha casa, lânguida, lendo a Marie Claire que falava das tendências da estação (turquesa, roxo e cereja), quando subitamente a campainha toca. Me deu um pouquinho da aflição, pra falar a verdade, pois (pensei comigo mesma) quem será a esta hora da tarde? Um pregador cristão em busca de arrebanhar novos fiéis? Uma criança faminta precisando de um prato de comida? Não me furtei em atender, caso fosse uma situação emergencial.
Eis que me surpreendo! Em plena porta de minha casa estava Eduardo Moscovis (sim, aquele galã de novela!) com uma expressão muito pesarosa em seu rosto. Ele acabara de passar numa clínica ali perto onde pegou os resultados de uns exames e descobriu que teria, no máximo, uma semana de vida. Então resolveu bater na primeira porta que encontrasse e solicitar (caridosamente) um pouco de sexo por compaixão, a fim de que pudesse encontrar algum alento nos seus últimos dias de sua existência.
Eu fiquei aturdida com tal proposta. Afinal, eu sempre fui uma esposa fiel e dedicada ao meu casamento. Mas pensando um pouco, eu me dei conta de que aquilo era um sinal. Sim! A alinhamento de casualidades do instigante balé do destino fez com que aquela figura notória, em seu momento tão dramático de vida, batesse na minha porta. Em busca de um instante de misericórdia.
Então eu topei. Por uma questão de compaixão (deixo bem claro).
Gente, foi o onze de setembro! (Não ficou pedra sobre pedra...) Aquele moreno desatinado me possuiu de tal forma como jamais possuira qualquer outra mulher. Foi uma tarde em que me entreguei à total volúpia... Claro que, em prol de um objetivo magnânimo de oferecer paz a uma pobre alma sem esperança. Sabe aquela experiência que mistura agonia e êxtase? Uau...
Quando eu achei que tinha dado por finalizada a minha missão, aconteceu um imprevisto.
No calor da emoção, de precisar oferecer amparo ao pobre galã desacreditado, eu esqueci a porta da sala aberta. Quando me levanto, ainda desnuda e sôfrega de uma tarde de sexo desenfreado, percebo Vlademir, o melhor amigo de meu marido na porta, com uma expressão atônita diante dos acontecimentos. Foi então que as coisas fugiram (um pouquinho) do controle.
Enfim, antes que eu pudesse esclarecer qualquer coisa ao Vlad, ele me largou essa:
- Se você dá pro primeiro babaca que aparece quando o seu marido sai, você também pode dar pra mim. Se não der, eu te entrego, sua vadia.
Diante de tal ameaça sórdida eu não tive escolha. Afinal, não era apenas a minha reputação que estava em jogo. A preocupação maior era com os sentimentos do meu adorado marido. Eu não suportaria vê-lo tendo que carregar sobre seus ombros tamanha decepção. Na qualidade de melhor esposa possível (e impossível!), eu tinha que tomar uma atitude. Então, pensando um pouco (enquanto me despedia do Du), resolvi ceder à chantagem repulsiva deste inseto que se diz o melhor amigo do meu marido. Tudo pela felicidade do meu casamento!
Gente, foi o onze! Eu acho que este homem estava a fim de mim há muito tempo. Pois me possuiu de tal forma como jamais possuira outra mulher. Entramos noite adentro num frenesi maluco de sexo sujo advindo da chantagem mais baixa que existia. Impressionante o que uma mulher não faz para salvar o seu casamento...
O bastardo do Vlad foi embora quando estava ameaçando amanhecer. Aproveitei o que sobrava da noite para descansar um pouco e me recuperar de aventura tão bizarra. Mais tarde quando eu acordo. Encontro uma carta misteriosa na porta de minha casa. O conteúdo dizia: “Eu tenho fotos. Aguarde tratativas. Priscila”
Priscila é nossa vizinha lésbica (traços nórdicos, beleza exótica) que sempre me tratou de forma muito estranha. Eu sempre suspeitei que ela tinha uma queda por mim, e isso se comprovou com a missiva fatal que ela me destinara naquele dia. Provavelmente aquela pervertida ficava me vigiando noite e dia alimentando fantasias sórdidas a meu respeito. Eu fiquei aflita, pois a coisa estava começando a sair (mesmo) do controle. Até onde eu iria para preservar a reputação de meu casamento imaculado?
Então eu pensei. Se ele tem o costume de me fotografar, deve ser uma desequilibrada obsessiva ou algo do gênero. Talvez até mesmo uma psicopata! Vá saber... O entendimento da dimensão do problema me faz ir correndo até a sua casa. Resolvi dar a ela o que queria para arrebatar de vez a sua sanha e acalmar os seus desejos obcecados. Olha, me senti uma heroína!
Foi o onze! Entrei na casa dela e a beijei sofregamente como se, no final das contas, eu mesma fosse a condenada à morte. Priscila me possuiu de tal forma como jamais possuira outra mulher. Foi um dia de luxúria desenfreada que culminou na extinção da pira de uma mulher indecente.
Eu só não esperava que a minha vizinha estivesse conectada na internet e com a webcam funcionando para o site nastyladies.com. Um dos tarados que ficam se tocando ao assistir os vídeos é o Ripa Seca (atendente da casa de carnes) que, por sinal, também é um dos dirigentes da torcida organizada do Corinthians.
Bem, trocando em miúdos, eu tive que transar com toda a torcida organizada, a conselho tutelar da região, a associação de pais e mestres, a Infantaria, a Maçonaria e uns representantes meio esquisitinhos (tipo meio verdinhos) da Área 51. Meu Deus, foi o onze! Todos eles me possuiram de tal forma como jamais possuiram outra mulher.
Depois que eu consegui silenciar a cidade toda com o meu corpo (tudo em prol da manutenção do meu casamento), faltava apenas um dia para o meu marido voltar de sua viagem. Tomei um bom banho. Fiz um café bem reforçado, que era pra esperar o meu queridão inteira. Lavou tá novo, né? E eu estava morrendo de saudades...
Gente, eu acho que tive sucesso, sabe. Pois dali em diante, tudo seguiu como deveria ser. O meu casamento andou sem maiores problemas.
É por isso que eu digo e repito. Posso ter algumas falhas aqui e ali. Mas nunca poderão me acusar de infidelidade. Tudo o que fiz até hoje foi em prol de manter a harmonia do meu lar. Ao lado do meu adorado marido.

2 comentários:

  1. hahahahaha!! muit divertidO!
    lembrei de "obscenidades de uma dona de casa" do Loyola Brandão...

    =)

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